Este é um dos livros mais mal entendidos da Bíblia. Não poucos são os cristãos que lhe negam lugar no cânon sagrado.
Antes de o condenar, notemos a opinião de outros.
Os judeus sempre o tiveram em elevado apreço e o reconheciam entre os mais santos dos livros. Comparavam “Provérbios” ao átrio exterior do Templo, “Eclesiastes” ao lugar santo e “Cantares de Salomão” ao Santo dos Santos. Jonathan Edwards, de veneranda memória, escreveu: - “O livro inteiro me era agradável e lia-o em todo o tempo, achando nele, cada vez que o lia, uma doçura sempre crescente que me elevava na minha contemplação”. O fato é, que, os homens mais espirituais que o mundo conheceu, encontraram gozo profundo nas suas páginas.
É mal entendido porque os críticos severos não se lembram que é:
1) Poesia, e não prosa. Damos aos poetas ampla licença. Esquecem-se também que é:
2) Um poema oriental. Os orientais se comprazem em figuras de retórica que a nós, ocidentais, aborrecem. Aqui nada há que melindre ao mais modesto oriental.
3) Tratando-se de uma parábola, temos que nos ater mais à questão da interpretação do que a da inspiração.
4) É importante notar que foi cantado, anualmente, no oitavo dia da Festa da Páscoa. Portanto, somente os que reconhecem em Jesus Cristo, seu Cordeiro Pascoal, é que podem compreendê-lo.
Provavelmente o livro teve sua origem no fato da atualidade, talvez a história de um amor todo humano: o romance de Salomão com uma donzela de Shulam. Alguém escreveu: “É a história real duma moça, humilde e virtuosa, prometida em casamento a um jovem nas mesmas condições; e que, foi tentada a voltar suas atenções e afetos a um dos jovens mais ricos e famosos que jamais vivera entre os homens. Celebra-se a vitória do amor casto e da vida humilde sobre as atrações mundanas e vantagens presumíveis da alta nobreza. É, ainda, a revelação de um amor puro, virtuoso, que os faróis da riqueza não podem iludir, nem a lisonja conquistar”.
Mas, isto é apenas o fundo e a armação. O Dr. Duff, em sua linda introdução às cartas de Rutherford’s diz: “Temos, aqui, representados, misticamente, os sons apaixonados da mais sublime concepção metafórica do oriente, por demais deslumbrante aos sentidos e pensamentos habituados com a frieza ocidental. A relação amorosa, o enlevo na comunhão, e a ardente, íntima, afeiçoada entrevista entre Emanuel - o Homem Deus - e as almas humanas. Mrs. Penn Lewis, escreveu: “Em ‘Cantares de Salomão’ nos é revelada a história mais íntima do redimido, que é levado a conhecer o Senhor, oculto em linguagem não só compreendida pelo esclarecimento do Espírito Santo. Vemos como o Noivo Celestial atrai a alma, por quem Ele morreu, estabelecendo união real com ela, atraindo-a com as cordas do amor, e fazendo com que, numa experiência real, tivesse sua vida unida a dEle.”
O livro pode dividir-se em 5 seções e, em cada seção, exceto em duas - 3 e 5 - temos evocado a separação entre os noivos, as conseqüências da separação, mas, também o feliz desfecho na união e deleite mútuos.
Versos:
1 - a melhor introdução aos Cantares de Salomão
2 - anseio pelo beijo de comunhão.
3 - noivo ausente, porém, de nome doce, e seu amor colocado acima de todas as alegrias da terra.
4-6 - confissão de fraqueza e indignidade, lembrança das misericórdias passadas.
7 - desejo de encontrar seu querido ainda que ele se oculte.
8 - ensina-a como achá-lo.
9-2:2 - por fim o Rei revela-se, então temos o diálogo apaixonado.
2:3-7 - a noiva testemunha que agora é feliz.
Nesta seção temos, mais uma vez, a separação dos noivos (2:8-9)
10 - a noiva dorme
11-13 - o noivo clama por sua noiva.
14 - a noiva se refugia no sacrifício expiatório
3:1-3 - o noivo atrai o olhar dela para o Calvário, buscando-O
3 - o auxílio dos guardas.
4 - sua recompensa em achá-lo.
Esta seção difere das duas anteriores. Os noivos não se separam. Ela não fala nem sequer uma vez. Somente ele fala. Pela primeira vez o noivo chama uma alma sua noiva. No Cap. 1, ela é somente sua amiga. No cap. 2:14 ele a chama de “pomba”, símbolo da presença do Espírito santo nela. Em 4:8 ele a chama “minha esposa”.
Principia com nova separação dos noivos
A noiva dorme, mas é acordada por ele; demais sonolenta, custa a levantar-se e quando o faz nota a ausência do noivo.
Ela expõe sua mágoa às suas amigas, filhas de Jerusalém, que lhe indagam da diferença que há entre o seu noivo e o das outras.
Ela replica.
Perguntando-se onde teria ido, de repente ela se lembra (6:2).
Ele volta e descreve a glória da noiva numa linguagem que jamais escandalizaria a mais fina sensibilidade oriental.
Aqui vemos os noivos, mais uma vez juntos voltando do deserto.
Agora não há mais deserto, nada mais do que a terra manando leite e mel.
O Rei lembra-lhe a sua humilde posição anterior (5); e a noiva prorrompe numa maravilhosa declaração do amor verdadeiro.
1) O primeiro pensamento da alma é “o meu amado é meu, e eu sou dEle”. 2:16. A esta altura pensamos, principalmente, que Cristo é nosso, e para nosso gozo.
2) Chegamos a “eu sou do meu amado e o meu amado é meu” 6:3. O desejo de sermos possuídos por Ele é nosso primeiro pensamento.
3) Por fim, chegamos a “eu sou do meu amado, e ele me tem afeição, 7:10. Segurança perfeita.