Dizem que Lutero se declarou francamente hostil ao livro de Ester, a ponto de almejar o seu desaparecimento. E, hoje, muitos têm a mesma idéia. É verdade que o livro está cheio de problemas difíceis. A primeira vista se nos afigura como um livro de caráter profano, sem mérito para ensinar espiritualmente e muito menos para formar entre os livros da Sagradas Escrituras.
Notar:
a) O nome de Deus não aparece, aí, nem uma vez ao passo que o do rei pagão é mencionado 187 vezes.
b) No Novo Testamento, não se faz nenhuma referência ao livro.
c) Neste livro não se fala de oração nem se alude à observação da sagrada Lei dos Judeus.
d) Trata da supersticiosa crença pagã em observar “dias de sorte”. Se isto pode ser chamado de sobrenatural é, só nisto, que o livro se aproxima do sobrenatural.
Antes de condená-lo, precipitadamente, devemos inquirir da atitude do povo judeu a seu respeito, e se, realmente, podemos compreendê-lo ou não.
É fato que não só foi aceito como parte do Cânon, como também é considerado, pelos judeus, como peculiarmente sagrado, e, a seu ver, ocupa o 2º lugar, logo em seguida aos 5 livros de Moisés.
O fato da ausência do nome de Deus é o seu principal encanto, e, de maneira alguma, consideraríamos isso uma mancha.
Mathew Henry disse: “Se o nome de Deus não está aqui, Seu dedo está”. Este livro é, como o chama o Dr. Pierson, o “Romance da Providência”. Por providência compreendemos que, em todos os negócios e atos da vida humana, quer individuais, quer nacionais, Deus tem Sua parte e Sua porção. Este controle, no entanto, está oculto - é secreto. Nisto reside a história maravilhosa que ensina a realidade da Providência Divina. O nome de Deus não aparece, “somente os olhos da fé vêem o fator divino na obra humana. Para o observador atento toda a história é a sarça ardente, flamejante, com a Presença misteriosa”.
O Talmud dá Deut. 32:18, como outra razão porque não se menciona o nome de Deus. Deus escondera Seu rosto a Israel por causa do seu pecado. Mesmo assim, não era indiferente à situação do Seu povo, embora agindo com que sob um véu.
Sugere-se que este livro é um extrato dos arquivos oficiais da Corte Persa (2:23). Isto explica a omissão do nome de Deus e os detalhes particulares.
Nada, dogmaticamente, se pode dizer a respeito do autor. Agostinho atribui o livro a Esdras, o Talmud à Grande Sinagoga.
Possivelmente, o livro for escrito por Mardoqueu (9:20).
Curiosamente, todos os acontecimentos do livro giram em torno das 3 festas, daí, se formam, naturalmente, 3 divisões.
a) Um banquete que durou 6 meses (1:1-4)
b) Seguido de uma festa de 7 dias (1:5-8)
c) A nobre recusa da rainha e sua deposição (1:9-22)
d) Entre os Caps 1 e 2, o rei desencadeou o histórico ataque à Grécia, com um exército de 5 milhões, sofrendo terrível derrota.
e) Escolha e entronização de Ester (2:1-20)
f) Mardoqueu salva a vida do Rei (2:21-23)
a) Mardoqueu recusa adorar um descendente de Agague que Samuel matar (3:1-2)
b) Os intrigantes da Corte o contam a Hamá (3:3-4)
c) A conspiração de Hamá (3:5-15)
d) O jejum dos judeus (4:1-4)
e) A mensagem de Mardoqueu a Ester (4:5-14)
f) O jejum de Ester (4:15-17)
g) Ester conferencia com o rei (5:1-8)
h) Hamá conspira para matar Mardoqueu (5:9-14)
i) O que fez o rei na noite de sua insônia (Cap.6)
j) A festa de Ester e o resultado (Cap.7)
a) Intercessão e estratégia de Ester para salvar a vida de Israel (Cap.8)
b) Um dia de defesa própria (9:1-19)
c) A festa de Purim instituída e observada pelos judeus desde esse tempo (9:20-32)
d) A grandeza de Mardoqueu (Cap.10)