Ap 2.18-29 – A Igreja de Tiatira - Phil Newton


Phil Newton é pastor da Igreja Batista Southwoods, em Memphis, Tennessee. Possui Mestrado em Divindade pelo New Orleans Baptist Theological Seminary e Doutorado em Ministério pelo Fuller Theological Seminary. Autor de vários artigos e livros teológicos, um deles publicado pela Editora Fiel, Pastoreando a Igreja de Deus: redescobrindo o modelo bíblico de presbitério na igreja.
Os temas das palestras foram:
· O Mundo na Igreja – Ap 2.18-29
· Morto ou Vivo – Ap 3.1-6
· Uma Porta Aberta – Ap 3.7-13
Em mais uma contribuição de Túlio Leite, segue abaixo a primeira palestra de Newton na Conferência Fiel de 2008.
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Ap 2.18-29 – A Igreja de Tiatira
Durante a guerra civil espanhola, um general que avançou sobre Madri com quatro colunas de soldados, enviou um alerta à cidade: “Eu tenho quatro colunas avançando sobre a cidade, mas tenho também uma quinta coluna dentro da cidade [espiões, sabotadores, franco-atiradores], pronta para agir a uma ordem minha”. Desde então o termo quinta-coluna designa aquelas pessoas que podem viver ao nosso lado, mas que não comungam do mesmo ideal e trabalham para destruí-lo. Pessoas que aparentemente são leais, mas de fato não são.
Jesus afirma que era exatamente isso o que estava acontecendo na igreja de Tiatira. Ela estava sendo ameaçada de dentro para fora. Isso pode acontecer a qualquer igreja, pode acontecer na sua igreja. Não estou afirmando que haja uma conspiração em curso. Também não estou dizendo que os quinta-colunas estejam conscientes de que o são. Mas pode ser que haja gente na igreja que não comungam dos nossos princípios bíblicos.
Quinta-colunista pode ser o pastor que transforma o culto de adoração em uma sessão de entretenimento; pode ser o professor de escola dominical que trata questões morais com elasticidade; pode ser o membro que fofoca contra a liderança ou faz oposição velada ou aberta às doutrinas da graça.
É por isso que Paulo instruiu aos presbíteros da igreja de Éfeso (e por extensão a todos os que lêem suas instruções): “Cuidem [estejam atentos] de si mesmos e da igreja”. Mais adiante Paulo diz a razão: eu sei “que dentre vós mesmos se levantarão homens, falando coisas perversas para atrair os discípulos após si” – eis os quinta-colunas!
Apesar de ser a menos importante das sete cidades, Tiatira é objeto da mais longa das cartas ditadas por Jesus. Lídia, a vendedora de púrpura é originária desta cidade. Os vendedores de púrpura pertenciam a um dos vários “sindicatos” de Tiatira, cada um deles tinha uma divindade “padroeira”. Animais eram ofertados a essas divindades em festas regadas a muito vinho e imoralidade. Quem não participasse corria o risco de ser posto de lado e ter os negócios arruinados.
Jesus inicia sua carta elogiando a igreja (v. 19). Que igreja não gostaria de ouvir esses elogios do Senhor? Cada uma de suas palavras tem um significado especial.
Amor: trata-se de amor sacrificial. Aqueles cristãos cuidavam com zelo uns dos outros.
Fé: eles tinham a compreensão correta do que significava ser cristão.
Paciência: eles eram perseverantes em face da tribulação.
Obras: eles estavam fazendo progresso, não havia acomodação.
Vemos então que muitas coisas boas estavam acontecendo naquela igreja!
E quando isso acontece, qual é a tendência da liderança? É relaxar na vigilância. É nos tornarmos complacentes. Passamos a agir como o comandante do avião que liga o piloto automático.
Mas é justamente nessas ocasiões que a quinta-coluna começa a agir. Eles são como a mosca morta no perfume, descritas em Eclesiastes [Ec 10.1]. As moscas mortas fazem com que o ungüento do perfumista emita mau cheiro; assim um pouco de estultícia pesa mais do que a sabedoria e a honra. É mais fácil destruir algo bom do que criar algo bom.
Tiatira, vocês tem moscas mortas no perfume! Essas coisas boas que vocês têm estão sendo destruídas pela “mosca morta”. O v. 18 é a única ocasião no Apocalipse onde Jesus é apresentado com a expressão “o Filho de Deus”. E Ele tem um olhar penetrante, olhar que faltou à liderança da igreja de Tiatira. Repare que o problema era semelhante ao existente na igreja de Éfeso (v. 6, 15), porém esta agiu de forma diferente.
Talvez o problema tenha começado com pessoas que diziam: “Temos que ser um pouco pragmáticos se quisermos ser relevantes na sociedade. Precisamos nos integrar à sociedade, precisamos ser aceitos se quisermos ganhar pessoas para Jesus”. E integrar-se significa participar dos sindicatos e das festas dos ídolos. Talvez esse fosse o argumento de “Jezabel”.
Jezabel é um nome simbólico que nos remete ao caráter da mulher do rei Acabe, a fenícia responsável pela introdução em Israel do culto a Baal e a Astarote. Essa Jezabel de Tiatira se autodenominava profetiza (v. 20) e encontrou espaço para difundir o seu falso ensino na igreja. Mas não é surpreendente encontrarmos essa tolerância ao falso ensino naquela igreja, em face aos elogios do v. 19? Não é o caso de dizer que a liderança concordava com Jezabel. Certamente eles odiavam aquele ensino. Provavelmente estivessem surpresos e indignados. Talvez dissessem: “Como é possível isso acontecer em nossa igreja?! Como essa mulher tem a audácia de dizer tais coisas? Como pode irmãos acreditarem nela?” Porém aqueles homens não tomaram nenhuma medida para estabelecer a verdade e impedi-la de ensinar.
Será que você tem o conhecimento de ensino errado sendo proferido em sua igreja e não faz nada, esperando que ele simplesmente desapareça com o tempo?
Evidentemente devemos ser tolerantes com irmãos que vêm de igrejas onde a teologia bíblica é deficiente, mas Jesus é absolutamente intolerante quando doutrina falsa é ensinada. Porém, em Tiatira não só a liderança, como também a membresia não reagiram à heresia. Jezabel não estava seduzindo as pessoas do mundo, mas “os meus” (v. 20). O alvo eram as pessoas que pertenciam a Cristo. O adversário está continuamente semeando sementes de destruição. Não é permitido à liderança da igreja o relaxar na vigilância. Se há alguma fragilidade no ensino em qualquer parte da igreja, em qualquer classe da Escola Dominical, devemos nos manifestar. Isso é desagradável? Sim, mas é o ônus do ministério.
O v. 21 mostra que a paciência de Jesus estava chegando ao fim. Ele havia dado tempo, mas Jezabel não se arrependia e a igreja não agia.
E o v. 22 inicia com a expressão “eis que”, isto é: “Acordem! Chegou a hora do Senhor da Igreja agir, trazendo disciplina para os que são dele e juízo para os que não são”. Muitos têm dificuldade quando se trata de exercer disciplina na igreja. Mas veja Jesus agindo nos v. 22 e 23 [cf. com Hb 12.11].
Mas no v. 24 Jesus afirma: “Outra carga não jogarei sobre vós”. Ele não estava colocando nenhum peso legalista sobre os ombros da igreja. Ele tão somente estava mostrando que desejava que eles vivessem como cristãos no mundo.
E no v. 25 Jesus conclui: “Conservem o que vocês têm”. Às vezes os pastores têm a tendência de chegar na igreja com “coisinhas novas”. Coisas que estão na moda por aí – quem sabe elas não farão a igreja crescer? Mas Jesus diz: Conserve, não jogue fora as coisas boas que vocês têm. Sejam fiéis.

Esboço das Palestras da Conferência Fiel (3)