Os mais antigos manuscritos do texto bíblico até agora descobertos



Publicado em 10/1/2001
Werner Keller
E a Bíblia tinha razão... Cia. Melhoramentos de São Paulo

No verão de 1947, o mero acaso levou à descoberta dos textos mais antigos até agora existentes. Entre os escritos em pergaminho e papiro que uns pastores beduínos descobriram por acaso numa caverna na costa norte do mar Morto, encontrava-se um rolo de sete metros de pergaminho com a íntegra do primitivo texto hebraico do Livro de Isaías. O exame do documento por peritos revelou que o texto de Isaías foi sem dúvida algum escrito pelo ano 100 a.C.! É o original de um dos livros dos profetas, como o que Jesus manuseava quando lia aos sábados em Nazaré (Lucas 4.16 e seguintes). O Livro de Isaías, com mais de dois mil anos de idade, é uma prova única da autenticidade da tradição da Sagrada Escritura, pois o seu texto concorda com a redação das Bíblias atuais. De 1949 e 1951, os arqueólogos G. Lankester Harding e Padre Roland de Vaux conseguiram encontrar em outras cavernas do mar Morto grande quantidade de manuscritos muito mais antigos. Entre eles acham-se, em trinta e oito rolos, dezenove livros do Velho Testamento. Esses achados são, segundo declarou G. L. Harding, "o acontecimento arqueológico mais sensacional do nosso tempo. Uma geração inteira de especialistas em assuntos bíblicos terá que empenhar-se no exame desses textos".

As redações bíblicas mais antigas e completas do Velho e do Novo Testamento eram, até pouco tempo, os célebres Codex Vaticanus e Codex Sinaiticus do século IV d.C., aos quais se reuniram em 1931 os Papiros Chester-Beaty dos séculos II e III. Fora isso, existem ainda alguns fragmentos de antes de Cristo (os Fragmentos Fuad e Ryland). Mas todos esses documentos são em grego, portanto, no que se refere ao Velho Testamento, traduções. A mais antiga transmissão completa, no texto hebraico primitivo, era o Codex Petropolitanus, escrito em 916 d.C. Com o pergaminho de Isaías encontrado na região do mar Morto, a tradição bíblica hebraica recua quase um milênio exato. Do N.T. foi descoberto em 1935 um fragmento do Evangelho de João, em grego, do tempo do Imperador Trajano (98-117). Esses antigos manuscritos são a resposta mais convincente sobre a autenticidade da tradição bíblica!

Entrementes, muito se escreveu a respeito de Qumran. Além das publicações rigorosamente científicas tratando dos célebres "rolos manuscritos do mar Morto", eles entraram também para a literatura especializada , popular, de fácil acesso à compreensão do grande público. Assim, a essa altura, já está na hora de perguntar: será que Qumran trouxe a sensação esperada? A resposta não pode ser inequivocamente positiva, nem negativa, pois mais uma vez cumpre fazer constar que em parte seria sim, em parte, não. De nenhuma maneira os rolos manuscritos do mar Morto forneceram aquelas revelações espetaculares da vida e obra de São João Batista, bem como de Jesus, o nazireu, que deles se esperavam. Ao invés disso, a "voz do deserto" de Qumran nos trouxe à mente quão pouco, no fundo, sabemos a respeito do histórico João Batista, do histórico Jesus. Todavia, parte dos rolos manuscritos de Qumran confirma uma concordância surpreendente com a redação dos textos do V.T., nos quais se fundamentam, e a redação massorética canônica do V.T. hebraico, datando de aproximadamente um milênio mais tarde. Tal concordância reveste-se de grande importância para a história das tradições.

Da mesma forma, o teor dos textos de Qumran, com suas inúmeras "antecipações" de idéias, doutrinas, exigências, regras e normas cristãs, forneceu e continuam fornecendo argumentos para os céticos, aqueles que duvidam da originalidade de Jesus e sua Igreja. Depois das descobertas de Qumran, nada mais ficou intocável no âmbito da religião de Cristo, a começar com as bem-aventuranças proferidas no Sermão da Montanha, até as vestes brancas do batismo, desde a eucaristia até a ordem comunitária. Assim, os assênios, os sectários de Qumran, possuíam um "conselho da comunidade", integrado por doze tribos de Israel, mas ainda igualmente aos doze apóstolos de Jesus Cristo. Em Qumran, havia "anciães"; aliás, foi de uma expressão grega, designando o "ancião" da comunidade cristã (presbyter), que nasceu a palavra alemã "Priester" (sacerdote). Ademais, o povo de Qumran conhecia até o ofício episcopal; o termo "bispo" é derivado da palavra grega "episkopos" (literalmente, supervisor) e os sectários de Qumran conheciam bem o ofício de um supervisor (em aramaico: mebagger).

Em resumo, desde os 12 apóstolos, passando pela "instituição comunal", em sua íntegra, até as idéias de apreciação ética, as essências da fé, tais como a consciência de ter cometido um pecado, o conceito da salvação, a expectativa do Juízo Final, a "pobreza em espírito", todos esses elementos básicos da fé e da religião cristã, tudo isso já existia em Qumran e era conhecido dos essênios.

Por vezes, as concordâncias chegam a ser paradoxais. Da Primeira Epístola aos Coríntios de São Paulo, consta o seguinte trecho enigmático: "Por isso a mulher deve trazer a cabeça (o sinal) do poder pó causa dos anjos" (Coríntios I 1.10). Isso poderia ser compreendido da seguinte maneira: por achar-se sob o domínio do homem, a mulher deveria usar um véu na cabeça; no entanto, o que isso teria a ver com os "anjos"? As regras vigentes em Qumran explicam de que se trata: segundo a crença dos sectários de Qumran, a refeição comunal sacrificial contava com a presença de "anjos sagrados", que poderiam ficas "ofendidos" com a presença de certas pessoas, ou grupos de pessoas. Quanto aos preceitos referentes às mulheres, os cristãos primitivos ainda acompanhavam certas praxes, embora não fossem tão longe como foram os essênios, que excluíram, radicalmente, as mulheres de suas refeições comunitárias sacrificais. Por suas, os cristãos exigiam das mulheres somente certos quesitos, tais como o uso do véu. Todavia, quanto aos doentes, paralíticos, cegos, surdos e aleijados, os cristãos deixaram de acompanhar o regulamento dos essênios, como se depreende da seguinte passagem do Evangelho de São Lucas: "Vai já pelas praças e pelas ruas da cidade; traze aqui os pobres, aleijados, cegos e coxos" (Lucas 14.21). Há cientistas que interpretam essas palavras como um franco protesto, uma rejeição terminante do regulamento comunal de Qumran.

Nessa altura, chegamos às diferenças existentes entre Qumram e a cristandade e, novamente, no Evangelho de São Lucas tornamos a encontrar algo parecido com uma tomada de posição. O evangelista cita a parábola dos feitos infiel e coloca as seguintes palavras na boca de Jesus: "...porque os filhos deste século são mais hábeis no trato com os seus semelhantes que os filhos da luz." (Lucas 16.8). "Filhos da Luz" eram os sectários de Qumran, os essênios. Com essa passagem do Evangelho, os membros das comunidades cristãs contemporâneas eram instados a mão imitar os essênios, que se fecharam em si, retirando-se para o deserto, e assim perderam o contato com o mundo ao seu redor; Enquanto os essênios de Qumran viveram totalmente isolados do resto do mundo, os mensageiros cristãos foram "foram pelas praças e pelas ruas da cidade", conquanto a sua mensagem não fosse dirigida aos eleitos, mas igualmente aos "pobres, aleijados, cegos e coxos". E essa mensagem não se chamou "justiça", mas, sim, rezava: "Não julgueis, para que não sejais julgados" (Mateus 7.1); e ainda: "O meu preceito é este: que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei" (João 15.12). Esses eram matizes novos, ainda desconhecidos da "voz do deserto" de Qumran. E, não obstante os caminhos enveredados pela cristandade em sua evolução posterior e quantos fossem os motivos de crítica e censura, nem seus adversários mais severos podem negar o fato de que foi justamente pela caridade, pela bondade, que ela de distinguiu de Qumran e do rigor do regulamento essênio.  

FONTE: e a Bíblia tinha razão... Cia. Melhoramentos de São Paulo Werner Keller



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